Mounjaro: como o medicamento age no corpo?

Desenvolvido para melhorar o controle glicêmico em adultos com diabetes tipo 2, o Mounjaro também vem sendo amplamente utilizado de forma off-label, especialmente para a perda de peso.
Luana Araujo
Publicado em 11/07/2025 - 14:58 - Revisado em 31/07/2025 - 15:23

Desenvolvido para melhorar o controle glicêmico em adultos com diabetes tipo 2, o Mounjaro também vem sendo amplamente utilizado de forma off-label, especialmente para a perda de peso.

Aprovado pela Anvisa desde 2023, o medicamento começou a ser comercializado no Brasil apenas agora, em 2025. Entenda como ele funciona no organismo e por que sua chegada ao mercado gerou tanta expectativa.

O Mounjaro, nome comercial da tirzepatida, começou a ser vendido no Brasil. Embora tenha sido aprovado pela Anvisa em 2023, a liberação para comercialização só ocorreu em 2025. A previsão era de que as vendas iniciassem em junho, mas em maio algumas farmácias já começaram a distribuir o produto. O preço, no entanto, ainda é elevado: uma caixa com quatro canetas de dose única — o suficiente para um mês de tratamento — custa a partir de R$ 1.000. O valor é definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).

Mas, afinal, por que esse medicamento era tão aguardado? Quais são seus efeitos, riscos e benefícios? É sobre isso que falamos a seguir.

O que é o Mounjaro?

Fabricado pela farmacêutica norte-americana Eli Lilly, o Mounjaro foi desenvolvido para auxiliar no controle glicêmico de adultos com diabetes tipo 2. No entanto, como ocorre com outros medicamentos da mesma classe, ele também é amplamente utilizado de forma off-label, ou seja, para finalidades diferentes daquelas aprovadas em bula — no caso, a perda de peso.

Entre seus efeitos está a sensação prolongada de saciedade, o que reduz o apetite e, consequentemente, a ingestão de alimentos. Mas os benefícios não param por aí. Como explicou Luiz Magno, diretor sênior da área médica da Eli Lilly Brasil, em entrevista à BBC Brasil, “ele é a primeira molécula que usa um novo mecanismo de ação e atua sobre dois hormônios excretados durante a digestão dos alimentos”, o que proporciona resultados inéditos.

Como o Mounjaro age no organismo?

A tirzepatida age ativando receptores celulares relacionados a dois hormônios digestivos: o GIP e o GLP-1.

O GIP (peptídeo inibitório gástrico), produzido no intestino delgado, regula a glicose no sangue e o metabolismo. Ele estimula a liberação de insulina após a ingestão de alimentos — especialmente os ricos em gordura ou carboidratos — e também atua no controle do apetite.

Já o GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao glucagon) tem funções semelhantes, mas com algumas diferenças importantes. Também produzido no intestino delgado, ele estimula a secreção de insulina pelo pâncreas e inibe a liberação de glucagon — hormônio que eleva os níveis de glicose no sangue. Além disso, o GLP-1 retarda o esvaziamento gástrico, o que prolonga a sensação de saciedade.

Esses mecanismos são especialmente relevantes para pessoas com diabetes tipo 2, que têm dificuldade na produção de insulina — hormônio responsável por transportar o açúcar dos alimentos do sangue para as células. Sem insulina suficiente, a glicose se acumula no sangue, causando diversas complicações. Medicamentos como o Ozempic, que tem como princípio ativo a semaglutida, atuam de maneira semelhante, mas apenas sobre o GLP-1.

Quais são os benefícios e riscos do Mounjaro?

Embora a indicação principal da tirzepatida seja o tratamento do diabetes tipo 2, seu uso off-label para a obesidade impulsionou sua popularidade. Pesquisas também investigam seu potencial para tratar apneia do sono, esteatose hepática (gordura no fígado), doença renal crônica e insuficiência cardíaca — condições frequentemente associadas à obesidade.

Por sua ação multifacetada, o medicamento oferece benefícios significativos à saúde e à qualidade de vida dos pacientes. No entanto, esse sucesso pode esconder um risco: o uso indiscriminado. Em tempos de culto à magreza, muitas pessoas recorrem ao medicamento sem real necessidade clínica e enfrentam efeitos colaterais como náuseas, vômitos, diarreia, constipação, dores abdominais e má digestão — tudo isso em busca de emagrecimento puramente estético.

É importante reforçar que não há problema em utilizá-lo para perder peso — esse uso já é aprovado e respaldado por evidências científicas. A obesidade, afinal, é uma doença que atinge 20,3% da população brasileira, segundo o Ministério da Saúde, com crescimento de 72% nos últimos 13 anos. No entanto, a prescrição deve ser criteriosa, voltada a casos em que outras estratégias já foram tentadas, e sempre com acompanhamento médico contínuo.

Efeitos adversos graves, embora raros, estão descritos no próprio site da farmacêutica. Entre eles estão problemas digestivos severos, lesão renal aguda, alterações na vesícula biliar, pancreatite, hipoglicemia e, quando usado em conjunto com outros medicamentos para diabetes, há alertas para risco de câncer de tireoide e reações alérgicas graves.

Um avanço promissor, mas que exige cautela

Nenhum medicamento está livre de efeitos colaterais. E, no caso de novas drogas, é fundamental manter uma atenção especial. Embora a tirzepatida tenha passado por diversos testes antes de ser aprovada, ainda não é possível saber com exatidão seus impactos a longo prazo, simplesmente porque não houve tempo suficiente para observá-los.

O Mounjaro representa um avanço importante no tratamento de doenças metabólicas, mas seu uso deve ser feito com consciência, responsabilidade e acompanhamento profissional. A ciência avança, e isso é motivo para otimismo — desde que venha acompanhado de informação e cautela.