Por que o câncer colorretal tem afetado os mais jovens?

Doença que matou Preta Gil mudou de perfil nas últimas décadas e alerta sobre a importância das estratégias de prevenção e diagnóstico precoce
Luana Araujo
Publicado em 29/08/2025 - 20:49

Em janeiro de 2023, a cantora Preta Gil começou a sentir desconforto abdominal. Pouco depois, recebeu o diagnóstico de câncer colorretal e iniciou um tratamento que duraria mais de dois anos, marcado por altos e baixos. Em julho de 2025, aos 50 anos, a artista faleceu, deixando o país em luto.

Mas, não seria ela muito jovem para um diagnóstico deste tipo? 

Estudos indicam aumento entre a população mais jovem

Um estudo da Faculdade de Medicina de Marília, publicado em 27 de março de 2025 na revista Asclepius International Journal of Scientific Health Science, analisou a evolução do câncer colorretal no Brasil entre 2019 e 2023. De acordo com o texto, o grupo mais acometido segue entre a população idosa, mas com indicação de aumento na faixa etária de 45 a 59 anos, que abrange a idade de Preta.

Aliás, o câncer de cólon e reto é o segundo mais comum entre as mulheres, com 865 mil novos casos em todo o mundo. Conforme o levantamento, projeções para 2040 indicam que 7.647.039 mulheres serão diagnosticadas com a doença, resultando em 3.110.710 mortes globalmente. Os números refletem o alerta já feito pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca): o câncer no intestino é o terceiro que mais mata no Brasil.

Em outro artigo publicado no Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, em setembro de 2024, pesquisadores também apontaram o aumento da incidência de câncer colorretal em jovens, destacando a urgência do diagnóstico precoce e maior atenção aos fatores de risco, que incluem histórico familiar, dieta inadequada e estilo de vida sedentário. Além disso, como a doença frequentemente apresenta sintomas silenciosos, o diagnóstico, muitas vezes, é tardio.

Ao considerar esses pontos, o estudo sugere a necessidade de mudanças nos hábitos cotidianos, como alimentação saudável e atividade física. “Dentre as medidas preventivas para o câncer colorretal, estão dieta balanceada com poucas gorduras saturadas e grande quantidade de frutas e vegetais, diminuição da ingestão de carne vermelha submetida a altas temperaturas, diminuição ou abandono do consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo, prática de atividades físicas de forma regular e controle do peso corporal”, diz o texto.

Como identificar o câncer colorretal?

Os sintomas que podem estar associados ao câncer colorretal (ou a outras condições que também demandam atenção e cuidado) são: 

  • mudanças no hábito intestinal – tanto diarreia quanto constipação podem acontecer;
  • desconforto abdominal, como aumento de volume do abdômen, gases ou cólicas frequentes;
  • sangramentos percebidos nas fezes ou no ânus (por exemplo, notar sangue ao se limpar com o papel higiênico);
  • ficar com sensação de que, mesmo após evacuar, o intestino não se esvaziou completamente (chamamos isso de tenesmo);
  • perda de peso sem razão clara ou motivo aparente;
  • fraqueza ou cansaço excessivo;
  • mudanças na coloração ou mesmo no formato das fezes: por exemplo, fezes escurecidas, em formato de fita (quando eram diferentes em outro momento), ou pastosas, etc.;
  • náuseas e vômitos;
  • dor à evacuação;   
  • anemia sem causa esclarecida.

Os principais exames envolvidos para a detecção precoce da doença incluem exames de sangue oculto nas fezes, colonoscopia e tomografia computadorizada. De acordo com a American Cancer Society, se a pessoa tiver sintomas que possam ser de câncer colorretal, ou se um teste de triagem mostrar algo anormal, o médico recomendará um ou mais dos exames citados.

A colonoscopia – exame padrão ouro para o diagnóstico do câncer colorretal – é considerada a melhor forma de rastreamento. Permite ao médico visualizar internamente o intestino e, se necessário, remover áreas anormais e também pólipos, e testá-los para câncer. 

Com o aumento do número de casos na população jovem, a atual indicação da colonoscopia é a partir dos 45 anos. Em situações com histórico familiar, o médico pode solicitar até mesmo antes. 

Em resumo, mais do que nunca, falar sobre câncer colorretal é necessário. Procurar um médico, fazer os exames indicados e ficar atento aos sinais do corpo pode, sim, salvar vidas. Quando você observa sintomas e procura ajuda precoce, maiores são as chances de enfrentar e vencer essa doença tão grave.

Leia mais: Maioria dos médicos especialistas atua fora do SUS, aponta Demografia Médica 2025