Tadalafila como pré-treino: quais os riscos por trás da nova moda nas academias?

Medicamento indicado para disfunção erétil vira tendência em academias, sem respaldo científico e controle médico.
Luana Araujo
Publicado em 11/07/2025 - 15:06 - Revisado em 05/08/2025 - 20:15

Esqueça os suplementos tradicionais. Agora a tendência de parte dos frequentadores de academias é um remédio para disfunção erétil usado como se fosse pré-treino. Ao pesquisar sobre o medicamento tadalafila, a orientação é clara: não é indicada para homens que não apresentam disfunção erétil. Mesmo assim, homens e mulheres ignoram as recomendações da embalagem e buscam no medicamento resultados não comprovados cientificamente e muito menos indicados por médicos e especialistas.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as vendas do medicamento passaram de 21,4 milhões de unidades em 2020 para 67,7 milhões em 2024. Em meio ao crescimento, a resposta para a dúvida sobre o uso ficou com o Google. Segundo a ferramenta de tendências de busca, o Google Trends, “o que acontece se a mulher tomar tadalafila?” foi a pergunta relacionada ao medicamento que os brasileiros mais pesquisaram no último ano.

A crescente popularidade da tadalafila está ligada a dois fatores principais: a ideia equivocada de que ela potencializa o ganho muscular na academia e a busca por uma melhor performance sexual, inclusive entre as mulheres, que nem fazem parte do público-alvo do medicamento. Mas como isso começou? Para entender essa questão, é preciso saber como o medicamento funciona.

O que é a tadalafila?

Assim como a sildenafila, o popular Viagra, a tadalafila é um inibidor que bloqueia uma enzima chamada fosfodiesterase tipo 5 (PDE5), responsável por dificultar que os vasos sanguíneos fiquem abertos. Ao bloquear essa enzima, a tadalafila ajuda o corpo a usar melhor uma substância chamada óxido nítrico (NO), responsável por relaxar e abrir os vasos sanguíneos, permitindo que o sangue flua com mais facilidade. Isso melhora o fluxo de sangue em diversas regiões do corpo, inclusive nos músculos.

Por conta desse resultado, seu uso é cientificamente comprovado e aprovado para tratar disfunção erétil, assim como hipertensão arterial pulmonar e sintomas do trato urinário inferior, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Porém, mesmo que aparentemente possa fazer sentido o uso antes dos exercícios físicos, por conta da vasodilatação e da melhora da oxigenação, não existe a indicação como pré-treino. Enquanto os usuários buscam aumentar a resistência e a capacidade respiratória para o desempenho aeróbico ou hipertrofia, uma série de riscos são associados ao uso indevido do medicamento.

O perigo invisível do uso off-label

O uso off-label — utilização um medicamento para finalidades diferentes daquelas oficialmente aprovadas — pode trazer diversas consequências para quem vê a tadalafila como um simples suplemento. Sua utilização como pré-treino, não recomendada e nem ao menos autorizada, pode ocasionar sintomas como dor de cabeça, tontura, rubor facial, dor nas costas, desconforto gástrico, queda da pressão arterial e alterações visuais.

Além disso, a queda brusca da pressão arterial pode causar desmaios e desencadear complicações mais sérias. O risco se intensifica durante treinos intensos, especialmente quando a tadalafila é combinada com substâncias estimulantes de pré-treino ou com álcool, aumentando a chance de eventos cardiovasculares. Existe ainda o risco da dependência psicológica do medicamento, em que a pessoa se condiciona ao efeito da medicação a ponto de acreditar que, sem ela, irá falhar.

Mesmo com a popularização da tadalafila como “atalho” para um melhor desempenho físico ou sexual, o uso fora das indicações médicas traz riscos à saúde, o que muitas vezes é ignorado pelos usuários. Lembre-se que, para conquistar resultados, é necessário ter equilíbrio, estar munido de informações confiáveis e receber orientação profissional. 

Clique aqui para ler a nota de esclarecimento da Sociedade Brasileira de Urologia sobre o uso de tadalafila para finalidades não médicas.