Se você se lembra dos últimos anos, não importa em qual parte do mundo você viveu, certamente está familiarizado com a palavra vírus, que vem do latim e significava, em suas primeiras definições, “veneno” ou “toxina”. O termo ganhou projeção mundial durante a pandemia de covid-19, e não houve quem não soubesse do que se tratava.
Mas, com a infeliz força que as fake news ganharam também na modernidade, há muita mentira circulando e gerando confusão sobre um tema que deveria ser de conhecimento popular simplificado. Afinal, todos seremos alvos de algum vírus em algum momento de nossas vidas, e ele pode ser de alta periculosidade ou menos grave, como um resfriado simples e até inofensivo por completo. Vamos entender melhor sobre o assunto a seguir!
O que são vírus?
Cientificamente falando, um vírus é um agente que consiste em um núcleo de ácido nucleico (DNA ou RNA) rodeado por uma casca de proteína. O uso da palavra “agente” aqui não é à toa: a discussão sobre se vírus são ou não seres vivos é daquelas que atormentam a biologia há muito tempo. Fato é que esses microrganismos são capazes de se multiplicar (ou replicar, como comumente utilizamos) apenas dentro de células vivas e, desta forma, podem causar doenças em seres vivos – sejam eles humanos, animais ou vegetais.
O dicionário Oxford nos conta que essa palavra foi usada pela primeira vez no período da língua inglesa medieval, entre 1150—1500. Mas, como explica o Ministério da Saúde, por serem tão pequenos – microscópicos, para dizer a verdade -, eles só foram observados pela primeira vez de forma científica e como os conhecemos hoje em 1930. Isso é recente quando comparado às bactérias, que foram observadas pela primeira vez desde 1676, segundo o mesmo artigo.
Um outro artigo, esse da Universidade Federal de Minas Gerais, traz a estimativa de que há um nonilhão – 1 seguido de 31 zeros – de vírus na Terra ainda sem serem catalogados. Isso é mais do que todas as estrelas do universo, para se ter uma ideia! E faz sentido, já que eles estão por toda a parte, desde o ar que respiramos até o chão que pisamos ou a comida que comemos.
Justamente por esse fator é que são considerados os organismos mais abundantes do planeta, mas há apenas um pouco mais de 6 mil espécies catalogadas. E vale lembrar: nem todas elas são nocivas aos seres humanos – dessa quantidade, aproximadamente 200 nos afetam. Em sua maioria, elas afetam plantas, animais, bactérias, entre outros.
Um pouco de história
O mesmo texto ainda traz a primeira vez que o biólogo russo Dmitri Ivanovski se deparou com uma infecção de plantas que, a julgar pelo que se tinha de conhecimento científico na época, foi cravada inicialmente como causada por uma bactéria. Mas, mesmo depois de aplicada a prática para barrar essa suposta bactéria, as folhas continuavam infectadas.
Mais tarde, descobriram que se tratava de um vírus que hoje recebe o nome de “mosaico do tabaco”, mas que, na época (1892), era chamado apenas de “agentes filtráveis”. Somente muito mais tarde ainda, então na década de 1930, mais especificamente em 1938, que o engenheiro eletrônico e criador do microscópio eletrônico B. von Borries, junto dos irmãos Ernst e Helmut Ruska, físico e médico respectivamente, divulgou um artigo científico que mudaria a história da ciência.
Ele continha imagens de corpos minúsculos que mais pareciam manchas escuras na lente do microscópio, mas que eram as então primeiras imagens de vírus. Assim nascia a nova ciência conhecida como virologia, que já caminhou bastante, mas que segue fazendo novas descobertas a todo tempo sem nunca ter cravado de fato quando os vírus nasceram – questão praticamente impossível de ser solucionada.
O funcionamento de um vírus
Justamente por serem capazes de replicação apenas em células vivas, eles podem ser considerados parasitas, já que não conseguem se reproduzir de forma independente. É preciso que eles se hospedem em uma célula para poder usá-la para se multiplicar, ou seja, são sempre invasores, porque fora dessa célula, esse vírus fica inativo e inerte.
O encontro com esse hospedeiro é, em parte considerável dos casos, violento e patogênico, ou seja, culmina em alguma doença. Ao entrar na célula e consumir todos os seus recursos, ele mata essa célula e parte para uma outra, criando milhares de cópias de sua própria estrutura que vão infectar outras células.
A divisão dos grupos de vírus
O modo de reprodução desse vírus dentro do seu hospedeiro vai se diferenciar a partir de que grupo ele pertence. Isso porque esse organismo tem dois caminhos para se multiplicar. Ele pode usar as enzimas da célula em que se hospedou para se copiar – como fazem os chamados vírus de DNA e que causam doenças como a catapora, HPV, herpes ou a já extinta varíola. O adenovírus, que causa tantas doenças que já conhecemos como a pneumonia, gastroenterite ou até uma conjuntivite, também faz parte dessa classe.
Mas, ele ainda pode usar seu próprio “motor enzimático” e apenas se apropriar de uma célula para poder ativá-lo, os chamados vírus de RNA. Esse subtipo costuma ser muito mais agressivo e mais epidêmico, já que sua mutação é mais frequente e escapa a todo tempo do nosso sistema imunológico.
Foi o caso do vírus da covid-19, mencionado no começo desse artigo, e de tantos outros como sarampo, poliomielite, HIV e a própria dengue, que também está em alta atualmente. O vírus da influenza, que causa a tradicional gripe, é parte dessa classe e é o que explica os tantos tipos e intensidade possíveis de uma gripe e porque é tão difícil criar uma vacina definitiva para essa doença, já que este vírus não para de se modificar.
Em ambos os casos, eles são formados pelo capsídeo, uma cápsula feita de proteínas que guarda a informação genética desses agentes – e que, aí sim, podem estar na forma de DNA ou RNA. Alguns deles ainda contam com uma camada de proteção a mais, feita de lipídios (gorduras).
É verdade que eles podem assustar e gerar grandes estragos, mas é preciso encará-los como parte do funcionamento do mundo que conhecemos hoje. Em sua imensa maioria, os vírus são extremamente comuns e até passam despercebidos. Dá pra ir além: como eles infectam células diversas, inclusive bactérias, elas ajudam a manter muitas destas controladas, por exemplo, sendo fundamentais para o controle microbiano dos ambientes.
Por fim, em seu processo de invasão e replicação, ele libera materiais orgânicos como ferros, nutrientes e carbono, que são reaproveitados por outros microrganismos e podem até afetar positivamente dinâmicas distantes, como o oxigênio do nosso ecossistema, a vida nos oceanos e florestas ou os caminhos da evolução de outros seres.
Nada é uma coisa só nessa lógica maniqueista que nos faz acreditar que há somente o mal ou somente o bem. Na verdade, tudo está interligado nessa dança tão bonita e profunda que é a natureza. Somos parte dessa complexidade.